O escritor Nuno Júdice recebeu hoje, em Madrid, o Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, no Palácio Real. A entrega da distinção foi feita pela rainha espanhola, na sala das Colunas.
Nuno Júdice, que acabou de publicar um novo livro de poesia, "Navegação de acaso", é o 23.º distinguido com o galardão e o segundo português a recebê-lo, dez anos depois de Sophia de Mello Breyner Andresen.
O prêmio, atribuído pelo Patrimônio Nacional espanhol e pela Universidade de Salamanca, tem o valor pecuniário de 42.100 euros e reconhece o conjunto da obra poética de um autor vivo que, pelo seu valor literário, constitua uma contribuição relevante para o patrimônio cultural partilhado pela comunidade ibero-americana.
O júri considerou o poeta, ensaísta e ficcionista português como autor de uma poesia "muito elaborada, de um classicismo depurado", mas, ao mesmo tempo, com um grande compromisso com a realidade, segundo a agência EFE.
Numa pequena entrevista publicada hoje pelo "El País", Nuno Júdice apresenta-se como "um operário da escrita". "Obrigo-me a escrever todos os dias. Escrever é a minha vida. Gosto de fazê-lo, não vivo disso, mas está na minha maneira de ser", revela o escritor de 64 anos.
Ilustro a notícia com o seu conhecido poema: "O Poeta"
O Poeta
Trabalha agora na importação
e exportação. Importa
metáforas, exporta alegorias.
Podia ser um trabalhador
por conta própria,
um desses que preenche
cadernos de folha azul com
números
de deve e haver. De facto, o que
deve são palavras; e o que tem
é esse vazio de frases que lhe
acontece quando se encosta
ao vidro, no inverno, e a chuva cai
do outro lado. Então, pensa
que poderia importar o sol
e exportar as nuvens.
Poderia ser
um trabalhador do tempo. Mas,
de certo modo, a sua
prática confunde-se com a de um
escultor do movimento. Fere,
com a pedra do instante, o que
passa a caminho
da eternidade;
suspende o gesto que sonha o céu;
e fixa, na dureza da noite,
o bater de asas, o azul, a sábia
interrupção da morte.
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