sexta-feira, 29 de novembro de 2013

NUNO JÚDICE - PRÉMIO RAINHA SOFIA



O escritor Nuno Júdice recebeu hoje, em Madrid, o Prêmio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, no Palácio Real. A entrega da distinção foi feita pela rainha espanhola, na sala das Colunas.

Nuno Júdice, que acabou de publicar um novo livro de poesia, "Navegação de acaso", é o 23.º distinguido com o galardão e o segundo português a recebê-lo, dez anos depois de Sophia de Mello Breyner Andresen.

O prêmio, atribuído pelo Patrimônio Nacional espanhol e pela Universidade de Salamanca, tem o valor pecuniário de 42.100 euros e reconhece o conjunto da obra poética de um autor vivo que, pelo seu valor literário, constitua uma contribuição relevante para o patrimônio cultural partilhado pela comunidade ibero-americana. 

O júri considerou o poeta, ensaísta e ficcionista português como autor de uma poesia "muito elaborada, de um classicismo depurado", mas, ao mesmo tempo, com um grande compromisso com a realidade, segundo a agência EFE.

Numa pequena entrevista publicada hoje pelo "El País", Nuno Júdice apresenta-se como "um operário da escrita". "Obrigo-me a escrever todos os dias. Escrever é a minha vida. Gosto de fazê-lo, não vivo disso, mas está na minha maneira de ser", revela o escritor de 64 anos.

Ilustro a notícia com o seu conhecido poema: "O Poeta" 




O Poeta

Trabalha agora na importação 

e exportação. Importa 

metáforas, exporta alegorias. 

Podia ser um trabalhador 

por conta própria, 

um desses que preenche 

cadernos de folha azul com 

números 

de deve e haver. De facto, o que 

deve são palavras; e o que tem 

é esse vazio de frases que lhe 

acontece quando se encosta 

ao vidro, no inverno, e a chuva cai 

do outro lado. Então, pensa 

que poderia importar o sol 

e exportar as nuvens. 

Poderia ser 

um trabalhador do tempo. Mas, 

de certo modo, a sua 

prática confunde-se com a de um 

escultor do movimento. Fere, 

com a pedra do instante, o que 

passa a caminho 

da eternidade; 

suspende o gesto que sonha o céu; 

e fixa, na dureza da noite, 

o bater de asas, o azul, a sábia 

interrupção da morte.


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